Domingo, 6 de Janeiro de 2008
Durante a quadra natalícia, assisti novamente a uma azáfama fora do comum entre as pessoas. Compras, compras e mais compras. Empurrões, assaltos, adrenalina, stress. Doces, banquetes, álcool. Convívios familiares entre pessoas que mal se conhecem e que não se encontraram durante o ano inteiro. Exibicionismo, concorrência. Pinheiros, enfeites, limpezas de fundo. Mais poluição, lixo, cansaço. Sucumbir às exigências dos mais pequenos, mesmo que não haja dinheiro suficiente, deixando que a sociedade de consumo os arrebate desde muito cedo. Manter a ilusão de que existe Pai Natal e de que é possível obter qualquer prenda. Gastar é a palavra de ordem. Engordar uma das consequências. Esquecer-se dos problemas pessoais, apenas lembrando-se de, nem que seja só no Natal, dar uma esmola a quem precisa. E tudo em nome do nascimento de Cristo (que, segundo historiadores, nem aconteceu em Dezembro)...E rapidamente entramos num novo ano, 2008. Apenas mais um ano a começar. Os tradicionais desejos são pedidos à meia-noite, enquanto estoira nos céus da cidade mais 1 milhão de euros. Quando assistimos, um pouco por todo o mundo, ao queimar de dinheiro sob a forma de pólvora, fogo e fumo, enquanto muitos à mesma hora não têm o que comer ou beber. Para mim, que gosto de festejar após a meia-noite a entrada em cada ano novo, a magia do fogo de artifício desvaneceu-se há muito. Talvez porque tornei-me um pouco mais ciente do que se passa à minha volta.Ao amanhecer do primeiro dia do novo ano, observo que as pessoas começam a mudar, como se acordassem lentamente duma espécie de estado hipnótico. Em algumas, pesa o cansaço da dança e o efeito do álcool em excesso. Noutras, uma certa nostalgia desta época fora do tempo, fora dos problemas, fora do trabalho. E naquelas que deixaram-se levar pelos excessos, pesa a consciência dum novo mês que começa e do dinheiro que escasseia. Outras pessoas, como eu, esperam que o novo ano traga mais luz a todos, que o caminho a trilhar não seja recheado de dificuldades e sofrimento, que todos os que nos são queridos estejam bem, que o mundo melhore e as consciências se abram.Esperança. A palavra de ordem desta época. Porque toda a azáfama, todas as tradições, todos os escapes, não passam de esperança disfarçada, por vezes irresponsável, outras vezes comedida. Esperança de que o ano inteiro seja de festa, vivido à margem dos problemas e da falta de dinheiro. Esperança numa vida mais fácil, menos solitária, com mais convívios. E todos têm a sua esperança pessoal, os seus desejos pessoais.Infelizmente, há sempre os que ficam à margem. Os que foram abandonados, aqueles a quem a vida não sorriu, nem no Natal. Os esquecidos. Os doentes. Os esfomeados. Os idosos que estão sozinhos. Estes, que muitas vezes vivem debaixo dos nossos narizes, não sabem o que é o Natal. Não conhecem o lado material desta época. E a esperança por vezes os abandona, os deixa sozinhos na escuridão. Pois é, cada um trilha o seu caminho mas... sempre podemos ajudar-nos uns aos outros, de forma a que esse caminho não seja tão duro. O Natal deveria ser isso, apenas um pouco de esperança, de calor humano, de conforto, de amor, de carinho. E não a hipnose materialista que envolve os países desenvolvidos.Deixo aqui estas palavras soltas, no dia em que chega ao fim a quadra natalícia. Que 2008 seja um bom ano para todos vós. Namaste.
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